Quem somos
Como tudo começou?
Resolvi fazer faculdade de Educação Física. Além de gostar muito de esportes e malhação, já tinha sido triatleta. O curso era noturno e eu deixaria as crianças com minha mãe. Quando terminasse a faculdade, montaria uma academia de arrebentar, seria personal e arranjaria emprego num clube de natação para treinar nadadores. Já que meu forte era natação. Tudo fácil!!! rsrsrsrsrs
Iniciei animadíssima a faculdade de Educação Física na FAJ - Faculdade de Jaguariúna e já comecei a dar aulas de spinning, jump e step numa academia. O salário era pouco, mas eu adorava o que fazia e tinha certeza de que quando terminasse a faculdade, tudo iria melhorar.
No segundo ano eu estava muito desanimada e cansada. Não era fácil acordar às 5h30 todos os dias para dar aula, cuidar da casa, exercer minha função de mãetorista e dormir às 23h30 quando chegava da faculdade.
Eu era a mais velha da minha turma e conhecida como a "tiazinha" da sala, pois todo trabalho era dever de casa e quando a classe toda começava a conversar eu pedia: "Genteeeeeeeeeee, por favor, o professor já está na sala. Nós somos universitários."
O Marcelo Nascimento, que era o coordenador da minha sala e foi orador no dia da colação de grau, lembrou deste bordão. Fiz grandes amigos na faculdade como Luciano Mologon, Carlos Eduardo Gomes, Gean Breda, Marcelino Serra e Carla Mabila. Na verdade, todos na turma foram meus amigos, mas estes em especial me ajudaram muito Me ajudavam na execução e apresentação dos trabalhos. Sempre me colocavam no grupo deles mesmo quando eu estava ausente. Muitas vezes as provas coincidiam com os dias de apresentação do festival de balé da minha filha, reuniões e festas na escola em que eles estudavam. Às vezes minha mãe tinha compromisso e eu tinha que levá-los comigo para a faculdade. Mas eu chegava lá, qualquer um deles dizia: "Ângela, já que você está com as crianças, apresenta primeiro e vai embora. Ou se você nao quiser ficar, nós cobrimos tua parte." - Foram uns amores. Mas várias vezes pensei em desistir.
No 3o ano quando fui pegar a grade curricular, estava escrito : LIBRAS. Pensei comigo: "Que raio de matéria é essa e pra quê serve?"
No dia seguinte tivemos aula com a Professora Nelma Carvalho. Ela disse que iria ser nossa professora de LIBRAS e deu introdução à matéria. Foi aí que eu conheci LIBRAS -Língua Brasileira de Sinais, as leis (que eu nem sabia que existiam) e os sinais. Pois até então eu conhecia só o alfabeto manual. Me interessei muito pela matéria e ficava feliz com cada sinal que aprendia.
Um dia, a professora Nelma trouxe um surdo que estudava na faculdade, o Cleber Pancieira. Ele fazia o curso de Engenharia Eletrônica e tinha uma intérprete chamadaVanessa Martins. Eu me encantei com a facilidade da Vanessa em se comunicar com ele e mais ainda quando ela interpretou uma música.
Então conheci a Naclei Silvana, professora e intérprete que dava aulas particulares de LIBRAS. Fiz um intensivão com ela. Me ensinou muita coisa.
Terminei Educação Física e fui atrás para fazer uma pós em LIBRAS. No primeiro dia de aula entrou na sala, a professora Regiane Agrella. Ela é a primeira doutora surda em Educação pela UNICAMP. Ela emitia uns sons e apenas sinalizava. Eu achei que era brincadeira que ela era surda. Pensei que ela estivesse fazendo aquilo, para que sentíssemos pelo menos um dia, como era angustiante a situação que o surdo passa todos os dias de não entender o que falamos e também de não serem entendidos quando falam. Mas a coordenadora do curso confirmou que ela era surda profunda, isto é, nasceu surda. Que agonia! Não havia intérprete e eu conseguia me comunicar com ela através dos poucos sinais que sabia. Acabei me tornando intérprete voluntária dela e a cada dia aprendia mais e mais. Me esforçava todos os dias estudando sinais, pesquisando na internet e resolvi conhecer a igreja que os surdos frequentam em Mogi Guaçu.
Fui com uma amiga, Silene Villas Boas que também fazia pós comigo. Foi um desastre. Ninguém falava com a gente e nós tentávamos entrar na conversa e não conseguíamos conversar com eles. Ficávamos isoladas, pois eles falam muito rápido. No sábado seguinte, aprendemos dois sinais: Jesus e milagre. Ficamos duas horas lá para aprender apenas dois sinais.
Silene começou estudar para os concursos e eu fui cara de pau, ia todos os sábados, me convidava para os eventos que iam ter e me aventurava nas conversas. Se me corrigiam eu pedia que fizessem o sinal novamente para que eu pudesse executá-lo da maneira correta. Eles sempre tiveram muita paciência comigo, uma paciência que os ouvintes não tem com pessoas surdas.
Nesta comunidade surda, todos os surdos trabalham, têm filhos ouvintes ou surdos, viajam, dirigem, adoram festas. São pessoas como nós, apenas não ouvem. São muito independentes. Já participei de excursão com eles, de confraternizações e hoje eu mesma me sinto surda. rsrsrsrs. Quando encontro com algum surdo da comunidade e estou com uma pessoa ouvinte, faço questão de sinalizar para que a pessoa surda possa entender o que está acontecendo, mesmo que esta não participe da conversa. É a mesma coisa que acontece quando estamos numa roda de pessoas ouvintes conversando e chega uma outra pessoa ouvinte. Cumprimentamos, explicamos sobre o que estamos falando e continuamos a conversa. Quero que o surdo se sinta bem ao meu lado. Então sempre que há um surdo, eu sinalizo sim. Isto, eu não chamo de inclusão e sim EDUCAÇÃO. Muitas pessoas sabem LIBRAS e têm vergonha de sinalizar em público. Outras soltam piadinhas sem graça e até preconceituosas na frente do surdo, pois sabem que a pessoa surda não vai ouvir. Me sinto desconfortável nessas horas.
Surdos passam por situações difíceis todos os dias. Quando vão à farmácia, ao hospital, à loja comprar algum presente, etc. Imagina eles tentando explicar o remédio que querem, o que sentem, o modelo de roupa e qual roupa estão procurando...
Teminei minha Pós em LIBRAS para Docência do Ensino Superior e Básico e para Interpretação através da FAJ - Faculdade de Jaguariúna. Saudades da minha professoraRegiane Agrella...
Comecei a divulgar LIBRAS, ministrei o curso oferecido pela prefeitura de Mogi Mirim para os professores da rede municipal, hoje sou professora da disciplina na Faculdade São Francisco, ministro cursos para pessoas ouvintes ou surdas interessadas em aprender LIBRAS na Proleduc na FMG - Faculdade Mogiana. De tanto me perguntarem o que é LIBRAS, saiu o nome da minha palestra: LIBRAS - Que língua é essa que se fala com a mãos?
Definição de surdos para mim: "Surdos são pessoas maravilhosas, sinceras e leais. Falam com as mãos, mas escutam com os olhos e com o coração."
Desde 2002 LIBRAS já é reconhecida como a 2a língua oficial do Brasil. Eu já sei falar com as mãos. Vamos vocês também falar com as mãos?
INCLUSÃO SOCIAL É QUESTÃO DE EDUCAÇÃO.
Resolvi fazer faculdade de Educação Física. Além de gostar muito de esportes e malhação, já tinha sido triatleta. O curso era noturno e eu deixaria as crianças com minha mãe. Quando terminasse a faculdade, montaria uma academia de arrebentar, seria personal e arranjaria emprego num clube de natação para treinar nadadores. Já que meu forte era natação. Tudo fácil!!! rsrsrsrsrs
Iniciei animadíssima a faculdade de Educação Física na FAJ - Faculdade de Jaguariúna e já comecei a dar aulas de spinning, jump e step numa academia. O salário era pouco, mas eu adorava o que fazia e tinha certeza de que quando terminasse a faculdade, tudo iria melhorar.
No segundo ano eu estava muito desanimada e cansada. Não era fácil acordar às 5h30 todos os dias para dar aula, cuidar da casa, exercer minha função de mãetorista e dormir às 23h30 quando chegava da faculdade.
Eu era a mais velha da minha turma e conhecida como a "tiazinha" da sala, pois todo trabalho era dever de casa e quando a classe toda começava a conversar eu pedia: "Genteeeeeeeeeee, por favor, o professor já está na sala. Nós somos universitários."
O Marcelo Nascimento, que era o coordenador da minha sala e foi orador no dia da colação de grau, lembrou deste bordão. Fiz grandes amigos na faculdade como Luciano Mologon, Carlos Eduardo Gomes, Gean Breda, Marcelino Serra e Carla Mabila. Na verdade, todos na turma foram meus amigos, mas estes em especial me ajudaram muito Me ajudavam na execução e apresentação dos trabalhos. Sempre me colocavam no grupo deles mesmo quando eu estava ausente. Muitas vezes as provas coincidiam com os dias de apresentação do festival de balé da minha filha, reuniões e festas na escola em que eles estudavam. Às vezes minha mãe tinha compromisso e eu tinha que levá-los comigo para a faculdade. Mas eu chegava lá, qualquer um deles dizia: "Ângela, já que você está com as crianças, apresenta primeiro e vai embora. Ou se você nao quiser ficar, nós cobrimos tua parte." - Foram uns amores. Mas várias vezes pensei em desistir.
No 3o ano quando fui pegar a grade curricular, estava escrito : LIBRAS. Pensei comigo: "Que raio de matéria é essa e pra quê serve?"
No dia seguinte tivemos aula com a Professora Nelma Carvalho. Ela disse que iria ser nossa professora de LIBRAS e deu introdução à matéria. Foi aí que eu conheci LIBRAS -Língua Brasileira de Sinais, as leis (que eu nem sabia que existiam) e os sinais. Pois até então eu conhecia só o alfabeto manual. Me interessei muito pela matéria e ficava feliz com cada sinal que aprendia.
Um dia, a professora Nelma trouxe um surdo que estudava na faculdade, o Cleber Pancieira. Ele fazia o curso de Engenharia Eletrônica e tinha uma intérprete chamadaVanessa Martins. Eu me encantei com a facilidade da Vanessa em se comunicar com ele e mais ainda quando ela interpretou uma música.
Então conheci a Naclei Silvana, professora e intérprete que dava aulas particulares de LIBRAS. Fiz um intensivão com ela. Me ensinou muita coisa.
Terminei Educação Física e fui atrás para fazer uma pós em LIBRAS. No primeiro dia de aula entrou na sala, a professora Regiane Agrella. Ela é a primeira doutora surda em Educação pela UNICAMP. Ela emitia uns sons e apenas sinalizava. Eu achei que era brincadeira que ela era surda. Pensei que ela estivesse fazendo aquilo, para que sentíssemos pelo menos um dia, como era angustiante a situação que o surdo passa todos os dias de não entender o que falamos e também de não serem entendidos quando falam. Mas a coordenadora do curso confirmou que ela era surda profunda, isto é, nasceu surda. Que agonia! Não havia intérprete e eu conseguia me comunicar com ela através dos poucos sinais que sabia. Acabei me tornando intérprete voluntária dela e a cada dia aprendia mais e mais. Me esforçava todos os dias estudando sinais, pesquisando na internet e resolvi conhecer a igreja que os surdos frequentam em Mogi Guaçu.
Fui com uma amiga, Silene Villas Boas que também fazia pós comigo. Foi um desastre. Ninguém falava com a gente e nós tentávamos entrar na conversa e não conseguíamos conversar com eles. Ficávamos isoladas, pois eles falam muito rápido. No sábado seguinte, aprendemos dois sinais: Jesus e milagre. Ficamos duas horas lá para aprender apenas dois sinais.
Silene começou estudar para os concursos e eu fui cara de pau, ia todos os sábados, me convidava para os eventos que iam ter e me aventurava nas conversas. Se me corrigiam eu pedia que fizessem o sinal novamente para que eu pudesse executá-lo da maneira correta. Eles sempre tiveram muita paciência comigo, uma paciência que os ouvintes não tem com pessoas surdas.
Nesta comunidade surda, todos os surdos trabalham, têm filhos ouvintes ou surdos, viajam, dirigem, adoram festas. São pessoas como nós, apenas não ouvem. São muito independentes. Já participei de excursão com eles, de confraternizações e hoje eu mesma me sinto surda. rsrsrsrs. Quando encontro com algum surdo da comunidade e estou com uma pessoa ouvinte, faço questão de sinalizar para que a pessoa surda possa entender o que está acontecendo, mesmo que esta não participe da conversa. É a mesma coisa que acontece quando estamos numa roda de pessoas ouvintes conversando e chega uma outra pessoa ouvinte. Cumprimentamos, explicamos sobre o que estamos falando e continuamos a conversa. Quero que o surdo se sinta bem ao meu lado. Então sempre que há um surdo, eu sinalizo sim. Isto, eu não chamo de inclusão e sim EDUCAÇÃO. Muitas pessoas sabem LIBRAS e têm vergonha de sinalizar em público. Outras soltam piadinhas sem graça e até preconceituosas na frente do surdo, pois sabem que a pessoa surda não vai ouvir. Me sinto desconfortável nessas horas.
Surdos passam por situações difíceis todos os dias. Quando vão à farmácia, ao hospital, à loja comprar algum presente, etc. Imagina eles tentando explicar o remédio que querem, o que sentem, o modelo de roupa e qual roupa estão procurando...
Teminei minha Pós em LIBRAS para Docência do Ensino Superior e Básico e para Interpretação através da FAJ - Faculdade de Jaguariúna. Saudades da minha professoraRegiane Agrella...
Comecei a divulgar LIBRAS, ministrei o curso oferecido pela prefeitura de Mogi Mirim para os professores da rede municipal, hoje sou professora da disciplina na Faculdade São Francisco, ministro cursos para pessoas ouvintes ou surdas interessadas em aprender LIBRAS na Proleduc na FMG - Faculdade Mogiana. De tanto me perguntarem o que é LIBRAS, saiu o nome da minha palestra: LIBRAS - Que língua é essa que se fala com a mãos?
Definição de surdos para mim: "Surdos são pessoas maravilhosas, sinceras e leais. Falam com as mãos, mas escutam com os olhos e com o coração."
Desde 2002 LIBRAS já é reconhecida como a 2a língua oficial do Brasil. Eu já sei falar com as mãos. Vamos vocês também falar com as mãos?
INCLUSÃO SOCIAL É QUESTÃO DE EDUCAÇÃO.